O romancista e dramaturgo brasileiro Bernardo Carvalho pôs Pátria no colo de Manuel Tur em resposta ao desafio de escrita de um texto original. Segunda parte do ciclo Retrato de Família, onde o encenador tem explorado realidades familiares opressivas, Pátria é um monólogo de um ensandecido homem só. Artífice da sua própria obsessão, fala com as paredes e as plantas, narrando-se como expatriado e injustiçado. Até que um estrangeiro lhe bate à porta, pronto a contradizê-lo. “Acabei a acreditar na história que ia contando e a esquecer-me de mim.” Verdade e mentira, realidade e ficção, origem e pertença (paira a sombra de um pai ausente) enovelam-se, são matéria e obstáculo da busca pela identidade. Manuel Tur desafia-nos a testemunhar, como se espreitássemos pelo buraco da fechadura, “esta espécie de angústia” da desagregação identitária, do desenraizamento e da solidão. A pátria é aqui uma miragem, uma abstração. Este pai, este homem sem nome, tempo e país, fala por todos nós.
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