Sonhos risonhos

MANUEL JOAQUIM MAIA MARTINS*

Memória de um espetáculo de teatro, de dança, de música?

Claro que sim! Lembro o quadro preto, o professor com orelhas de burro, o poema “isto ou aquilo” na voz límpida da Lena d’Água, o zumbido das melgas, o ECO-ECOOO, os sons dos bichos, o sapateado, o som da chuva a cair, os acordes e ritmos de rock, de rap e de fado, os relâmpagos do espetáculo Ou Isto ou Aquilo – Recital de Poesia e Música, que vi e ouvi em dezembro de 2017.

Trata-se de um espetáculo dirigido essencialmente a crianças, que apreciei, particularmente, pelo espetáculo em si, mas também – e como professor de Língua Portuguesa – pela importância que o mesmo comporta para a iniciação à poesia junto dos mais jovens e pela excelência da escolha feita, em termos de autora.

A poesia de Cecília Meireles será sempre uma poesia da transposição da realidade para um mundo mágico onde a criança se reconhece, a si e ao mundo que a rodeia, num balancé de palavras cheias de ternura, de musicalidade e de bom senso, e que José Caldas, Lena d’Água e Tahina Rahary tão bem conseguiram expor e transmitir, com uma doçura e uma delicadeza rítmica deliciosas, tão apreciadas e visíveis no silêncio das crianças que assistiam, revelador da sua atenção e da sua curiosidade. Nesse contexto, a cenografia escolhida e a musicalidade produzida criaram em cada espetáculo a magia que os poemas de Cecília Meireles transportam para tocar o espírito de cada criança que os ouve.

Foi, sem qualquer dúvida, um espetáculo de alma e de coração, onde cada “sonho risonho”, ao som de um sininho, pairou sambando sobre cada criança no escuro da cena, e fez sonhar e sorrir pais e crianças presentes.

Gostei imenso, direi mesmo: A-DO-REI!

*Professor.

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14-17 Dezembro 2017
Teatro Carlos Alberto

Ou Isto ou Aquilo – Recital de Poesia e Música

a partir da poesia de Cecília Meireles
música Luís Pedro Fonseca
encenação José Caldas
coprodução Quinta Parede – Associação Cultural, Teatro Nacional São João

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in O Elogio do Espectador: 100 espetáculos, 100 testemunhos, 100 fotografias Cadernos do Centenário | 1
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fotografia João Tuna