O espetáculo dirigido por João Cardoso e Nuno Carinhas estreou no passado dia 1 de outubro no Teatro Nacional São João. Comédia de Bastidores (no original, Absurd Person Singular), peça de Alan Ayckbourn, chega agora às livrarias, numa edição Teatro Nacional São João/Húmus com tradução de Paulo Eduardo Carvalho.
“As coisas verdadeiramente interessantes”, diz Alan Ayckbourn, “as coisas que as pessoas gostam de dizer umas às outras em privado, são ditas ao lado da banca da cozinha.” Em três atos, em três sucessivas ceias de Natal, a peça de Ayckbourn, autor frequentemente apodado de Molière da classe média, percorre os temas do casamento burguês, do adultério, dos conflitos de classe ou das pequenas obsessões, com a Inglaterra pré-thatcheriana a servir de pano de fundo.
Enquanto obra predominantemente do género cómico, Comédia de Bastidores revela certas nuances . “Dentro dos moldes muito conservadores da peça-bem-feita e das convenções mais reconhecidas da comédia, Ayckbourn experimenta, arrisca combinações inusitadas, extrema o nosso horizonte de expectativas”, lê-se no texto que serve de prefácio, do tradutor Paulo Eduardo Carvalho. “Há sempre algo no modo de Ayckbourn contar as suas histórias que traduz um gosto experimental.”
Esta peça “é feita também de argumentações ou de encontros e desencontros de linguagem”, explica o encenador Nuno Carinhas. “Estamos perante coisas banais e risíveis, mas que, ditas assumidamente, podem dar uma outra densidade ao que se diz e a quem se diz.” “Ao encararem as suas situações de um modo inteiramente sério”, as personagens de Comédia de Bastidores “colocam-nos face uma escolha: rirmos ou termos pena delas”, explica Alan Ayckbourn.
Alan Ayckbourn, encenador e autor de uma vasta obra dramática, foi diretor artístico do Stephen Joseph Theatre ao longo de quase três décadas e é o autor anglófono mais representado em todo o mundo. O crítico Michael Billington considera-o um dos mais perspicazes comentadores sociais do teatro britânico.
O novo número da coleção de textos dramáticos proporciona um reencontro do Teatro Nacional São João com o trabalho de Paulo Eduardo Carvalho. Nesta edição, o São João e a Húmus recuperam a tradução que o professor universitário e investigador teatral fez para a encenação de 1997 do Teatro Experimental do Porto. Paulo Eduardo Carvalho, que faleceu em 2010, esteve na génese da companhia ASSéDIO, tomando parte em vários projetos de Nuno Carinhas e de João Cardoso, e foi durante anos a fio um colaborador regular do São João, para o qual escreveu ensaios, assinou traduções e realizou conferências e seminários. É ainda o autor da monografia Ricardo Pais: Atos e Variedades, editado pela Campo das Letras em 2006.
Comédia de Bastidores é o 34º volume da coleção Teatro Nacional São João nas Edições Húmus e o terceiro editado em 2020. O esforço editorial empreendido nos últimos anos representa já cerca de um terço do total de obras editadas nesta coleção que teve o seu início em 2007, com o lançamento de “O Cerejal”, de Anton Tchékhov. Ao longo deste ano, a parceria com as Edições Húmus já propiciou também o lançamento dos dois primeiros números da coleção Empilhadora, que reúne obras de história e estética teatral, ensaio e biografia.
Este e os outros volumes da coleção Teatro Nacional São João nas Edições Húmus podem ser adquiridos no Teatro São João, na livraria Poetria ou através do email poetria@tnsj.pt.
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9 de outubro de 2020