Enciclopédia Mínima reúne o melhor de mais de duas décadas de edições do Teatro Nacional São João

Ao sexto título, fechamos o capítulo dos _Cadernos do Centenário_, a coleção que deu lastro editorial às comemorações do Centenário do Teatro São João. **_Enciclopédia Mínima: Uma Antologia de Cem Textos_** reúne, num volume com mais de 600 páginas, cem dos milhares de textos originais – entre ensaios, conversas, notas de ensaios, entrevistas – editados em publicações do São João, desde 1996. Esta _Enciclopédia_, concebida e organizada por João Luís Pereira, vai ser apresentada este sábado, dia 26 de março, no Teatro São João, por Maria Sequeira Mendes.
Dispostos de A a Z, os textos de _Enciclopédia Mínima_ configuram “uma pequena biblioteca escrita por uma inteligência coletiva”, percorrendo, como se pode ler no prefácio, “géneros e estilos variegados, uma profusão de tópicos e argumentos, circunstâncias diversas, múltiplas intenções editoriais”, em que “cada texto dá a ler um livro diferente” e “só o artifício enciclopédico confere ao caos uma aparência de sensatez. Há método na loucura”.
De facto, _Enciclopédia Mínima_ reúne textos de autores como Frederico Lourenço, que em “_Castro_, poema trágico” escreve sobre a obra de António Ferreira, Maria Filomena Molder, que analisa _O Duelo_, de Henrich von Kleist, António Guerreiro, que escreve sobre _O Resto Já Devem Conhecer do Cinema_, de Martin Crimp, ou António Sousa Ribeiro, que, na entrada “_Kraus”_, discorre sobre a obra por si traduzida:
“O título, _Os Últimos Dias da Humanidade_, define uma perspetiva apocalíptica. A banalidade desse título é apenas aparente: não se trata de uma visão escatológica; para Kraus, o apocalipse está desde sempre inscrito na aparente normalidade das formas do quotidiano.”
_Enciclopédia Mínima_ colige também as mais memoráveis entrevistas realizadas para os manuais de leitura e programas de sala produzidos pelo São João. Aqui, temos conversas com Rogério de Carvalho, Ricardo Pais, António Lagarto, Giorgio Barberio Corsetti ou Eimuntas Nekrosius. Na entrada que toma o seu apelido, o encenador lituano partilha os seus pensamentos sobre o espetáculo _Metai/Estações_, de 2003:
“Estou num momento de criação e isso não se consegue através do pensamento, tenho de chegar lá através da intuição, de sentimentos… Não, sentimentos, não! Imagens, fantasia. Através de erros.”
A antologia reserva-nos ainda intervenções em sessões públicas como as de Francisco Luís Parreira, de Armando Silva Carvalho ou, a mais recente, de Marvin Carlson, mas também textos do poeta Alberto Pimenta (“O Diabo está desclassificado; a tentação morre à míngua de já não haver quem precise de ser tentado. O inferno continua a ter alvará, mas perdeu o velho rating em todas as artes.”), do historiador Rui Tavares, da jornalista Alexandra Lucas Coelho, ou do editor Vítor Silva Tavares. Na entrada “_Zás”_, e “À boleia de Jarry”, escreve assim o fundador da &etc:
“Talvez por isso, mais que espectador sou ai de mim comparsa deste faz-de-conta sinistro que dá pelo nome de estabilidade social, com sua flor ‘artística’ na botoeira. Só que – viva Jarry, que eu já ri e rio e roo! – posso atirar para o alçapão, zás, os respeitinhos todos que me impinjam. E daqui me vou, à boleia dele.”
_Enciclopédia Mínima: Uma Antologia de Cem Textos_ vai ser apresentada este sábado, a partir das 16 horas, no Salão Nobre do Teatro São João. A apresentação da sessão vai ficar a cargo de Maria Sequeira Mendes, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e autora de _The Ordeals of Interpretation_ e coautora de _O Desensino da Arte_.
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Programa cofinanciado pelo Programa Operacional Regional do Norte (NORTE 2020), Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
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25 de março de 2022
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