
Teatro Nacional São João
De 1798 a 2020, do Real Teatro de São João ao centenário Teatro Nacional São João, quantos teatros habitaram este Monumento Nacional que a cidade do Porto poisou a sul da Praça da Batalha?
Projetado pelo arquiteto e cenógrafo italiano Vicenzo Mazzoneschi, o Real Teatro de São João foi construído para dotar a “segunda cidade do Reino” de uma “bela escola de costumes e de civilidade”. Inaugurado oficialmente no dia 13 de maio de 1798, foi o primeiro edifício construído de raiz no Porto exclusivamente destinado à apresentação de espetáculos. Seria destruído por um incêndio na noite de 11 para 12 de abril de 1908. No rescaldo da tragédia, uma testemunha ocular anotou as primeiras impressões: “É desolador o aspeto do edifício, do qual apenas restam as paredes e através de cujas portas e janelas se descortina a enorme ruinaria em que ficou transformada a nossa primeira sala de espetáculos”. No exato lugar desta “ruinaria” haveria de erguer-se o edifício-monumento que hoje conhecemos.
Em outubro de 1909 é lançado um concurso público para a sua reconstrução, do qual sairia vencedor o anteprojeto assinado por José Marques da Silva. Considerado “o último arquiteto clássico e o primeiro arquiteto moderno do Porto”, Marques da Silva convocou para o seu projeto um conjunto de formas e sinais que dialogavam com a memória do edifício desaparecido. A formação estilística e metodológica absorvida na École des Beaux-Arts de Paris reforçou o fascínio pelos “modelos franceses”, bem evidenciado por uma rigorosa e teatralizada articulação de espaços de acolhimento, transição e representação. O arquiteto conseguiu conjugar os valores de ostentação com os valores de eficácia, integrando com sucesso os aspetos puramente arquitetónicos e os construtivos. Valer-se-ia de uma nova técnica, com a utilização do betão na ossatura fundamental e as argamassas de cimento nos revestimentos. À época da sua inauguração, a 7 de março de 1920, o Teatro de São João representava um compromisso entre a inovação técnica e a continuidade estilística de um gosto tradicional. Num só gesto, Marques da Silva captou a essência da melhor arquitetura: ativar uma memória para a reinterpretar no confronto com o novo.
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