…pois. Mas…
…a sintetização de um sentimento de tão bela e gigantesca obra, mesmo colocando de parte algumas outras belezas que vão aparecendo no São João, só por isso já nos deixam contusões de dúvidas. Falamos então e tão-só de Os Gigantes da Montanha, numa criação de um outro gigante como autor, actor e director teatral que dá pelo nome de Giorgio Barberio Corsetti, em tão boa hora trazido pela mão de Ricardo Pais, com quem, naturalmente, o Teatro Nacional São João consolidou a sua posição ao lado dos grandes teatros europeus, não só pelos edifícios mas principalmente pelos seus repertórios de teatro de arte e pelo conjunto de agentes que estão na base das suas programações.
Na origem está Luigi Pirandello, outro gigante que, incontestavelmente, pertence à história da dramaturgia universal. Tenho para mim que o muito tempo que usou para escrever aquela jóia de gigantes textos, o tenha feito de propósito. Foi a peça que mais tempo demorou a escrever e, provavelmente, com a intenção de estar lúcido momentaneamente antes da morte e, por isso, ter de ditar o final a quem estivesse próximo e assim propor exactamente aquilo que se está a passar. Por muita concentração e boa memória que o filho tivesse aplicado, jamais seria igual ao original.
O elenco era heterogéneo mas – na gestualidade, no movimento, na respiração, na voz, no ritmo, alma-do-espectáculo, no diseur (com o natural significado da palavra), no contexto – mais parecia uma sinfonia clonada de uma única matriz de técnica actoral.
Há mais de 20 anos que assisti a estes Gigantes da Montanha e depois dos “bravos” senti uma leveza tal, a sensação de um vazio total de vísceras, provocada pela invasão de uma nuvem gigante de borboletas, que desceu da montanha e me levou em voo por regiões de belezas indescritíveis.
Não fui eu, mas sim o sistema cultural de Itália que, em 2019, nomeou Giorgio Barberio Corsetti director do Teatro di Roma – Teatro Nazionale.
*Ator, encenador.
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19 Setembro – 11 Outubro 1997
Teatro Nacional São João