Teatro Carlos Alberto

Paisajes Para No Colorear

direção Marco Layera

dramaturgia Carolina de la Maza, Marco Layera

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Compañía de Teatro La Re-Sentida (Chile)

Paisajes Para No Colorear

Descrição

Na sua sexta edição, o MEXE propõe-se “reinventar a forma de estarmos juntos para vivermos o risco de voltarmos a ser humanos”. O Encontro Internacional de Arte e Comunidade está de volta à cidade e ao Teatro Carlos Alberto, elegendo o “risco” como tema. Ideia que atravessa Paisajes Para No Colorear da companha chilena La Re-Sentida, espetáculo que resultou de um longo processo de recolha de depoimentos de mais de cem raparigas vítimas de atos de violência. Em palco, nove adolescentes chilenas partem de casos reais para interpretar o mundo e a brutalidade que testemunharam ou vivenciaram. Compõem o retrato de uma sociedade que interiorizou e normalizou a violência de género, procurando superar as injustiças e desigualdades numa revolução cultural sem precedentes. Com encenação de Marco Layera, estas Paisajes Para No Colorear completam-se com Tenemos Mucho que Decir, oficina onde o coletivo La Re-Sentida se propõe explorar os mundos subjetivos de cada participante, as suas experiências imediatas, referências, preocupações, necessidades e imaginários. Objetivo? Descobrir, através de expressões teatrais, um suporte de manifestação social e ideológica que possa ser traduzido num contributo efetivo para o grupo de participantes e para a comunidade onde atuam.

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“A realidade é excessiva”

Três perguntas a Marco Layera **

Porque elegeu trabalhar com adolescentes não profissionais?

A partir da peça anterior, A Ditadura do Cool (2016), [a companhia] La Re-Sentida decidiu enveredar por caminhos distintos, mais ligados a projetos sociais do que artísticos. Perguntámo-nos, então: como desenvolver um projeto artístico profundamente enraizado num trabalho social? Se vamos apresentar uma obra a uma comunidade sem acesso ao teatro, deveríamos juntar-nos a ela para partilhar, dialogar e trocar experiências, porque acredito que só fazer teatro já não chega.

A peça, desde a sua premissa, parece querer romper com a imposição do androcentrismo, do homem branco, do cisgénero, e vai cada vez mais fundo até questionar a imposição do adulto, que é quem dita ao jovem as regras de como viver. Como vê a educação das crianças e dos adolescentes no Chile?

Como encenador, tive de enfrentar esse problema, para não cair na hipocrisia de cometer o que a peça critica. Nunca tive a visão do encenador que se considera um semideus que faz e desfaz. Acredito na produção coletiva: o encenador é quem tem o papel de articular as experiências, os saberes e os recursos cénicos inerentes ao processo, mas sempre conferindo-lhe uma expressão coletiva. Abordei este trabalho com adolescentes da mesma forma, trabalhando de modo transversal, acreditando que o mais importante nos processos coletivos é a autoria de quem participa. Para explorar os temas da peça fizemos uma investigação exaustiva de quase um ano. Durante o trabalho com as atrizes, perguntámo-nos por vezes se não estávamos a ir longe demais no que mostrávamos. Mas a verdade é que a realidade é excessiva. Nos seis meses em que trabalhámos na peça, seis das nossas colegas adultas e das jovens do elenco foram vítimas de abuso sexual.

Por que razão crê que os homicídios retratados na peça foram silenciados?

Não é que o tenham sido, antes que ninguém realmente se importa com este assunto na cultura em que vivemos. Ainda que haja casos mais divulgados no Chile, como o da menina que morreu a cargo do SENAME – Serviço Nacional de Menores. Uma investigação revelou que durante dez anos houve milhares de mortes nesse Serviço. Foi um escândalo, logo silenciado por pactos políticos. Nunca se apura a responsabilidade política. Geralmente, estes factos apenas têm eco nos diários sensacionalistas. Mas o mais importante é que as pessoas se inteirem e saibam que são comuns e que esta é uma realidade quotidiana no nosso continente.

** In El Mostrador. Chile, setembro de 2021, recuperando uma entrevista publicada originalmente na Deustche Welle, a 9 de maio de 2019, aquando da estreia da peça na Alemanha.

Trad. Fátima Castro Silva.

Créditos

direção Marco Layera assistência de direção Carolina de la Maza dramaturgia Carolina de la Maza, Marco Layera

cenografia e desenho de luz Pablo de la Fuente figurinos Daniel Bagnara sonoplastia Tomás González som Alonso Orrego

interpretação Ignacia Atenas, Almendra Menichetti, Paula Castro, Daniela López, Angelina Miglietta, Matilde Morgado, Constanza Poloni, Rafaela Ramírez, Arwen Vásquez

coprodução Centro Cultural Gabriela Mistral, Compañía de Teatro La Re-Sentida (Chile)

estreia 3Ago2018 Centro Cultural Gabriela Mistral (Santiago do Chile) dur. aprox. 1:30 M/14 anos

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Espetáculo em língua castelhana, legendado em português.

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Teatro Carlos Alberto 20+21 setembro seg+ter 10:00

Oficina Tenemos Mucho que Decir

orientação Compañía de Teatro La Re-Sentida

Sessões

Teatro Carlos Alberto

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· sáb · 18:00