Maria Sequeira Mendes propõe-nos uma história alternativa do teatro. Uma história obscena, se quisermos. “Obsceno” significa “contrário à decência e ao pudor”. Na tragédia clássica, as obscenidades – como os assassínios ou as cenas de batalha – eram poupadas aos olhos dos espectadores. Longe da vista, perto da imaginação? Ao longo de oito sessões, somos conduzidos ao que não é representado no palco, mas sim narrado, intuído, imaginado, assombrado. “Lembra-te de mim”, implora o pai de Hamlet, assassinado, segundo ouvimos dizer. Lembrem-se de Godot, essa ausência tão obsessiva e omnipresente. O fora de cena é um atributo fundamental da dramaturgia ocidental, dos gregos ao teatro pós-dramático. Neste último, o que está ausente pode ser uma ideia tradicional de texto ou mesmo os atores, como em A Piece of Work de Annie Dorsen, descrita como “um Hamlet digital para uma era pós-humana”. Investigadora e professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria Sequeira Mendes escreveu, entre outros, os livros The Ordeals of Interpretation (2020) e O Essencial sobre Hamlet (2023).