In memoriam Argentina Santos

**Pisou pela primeira vez o palco do Teatro Nacional São João em 1997, e foi uma das vozes de fado convocadas por Ricardo Pais em Raízes Rurais, Paixões Urbanas, o retrato cantado e dançado de um país musical chamado Portugal. Em Paris, onde o espectáculo se estreou, na Cité de la Musique, o crítico do Libération escreveu que o fado de Argentina era “perigoso, arriscado”, e que lhe recordava “algumas súplicas da diva árabe Oum Khalsoum”. O inédito jeito e génio de Argentina haveria de visitar-nos mais duas vezes, em Regressos (2004), ao lado de Camané, e em Cabelo Branco é Saudade (2005), ao lado de, entre outros, Celeste Rodrigues. Ricardo Pais, que a dirigiu nestes espectáculos, falava assim da sua única e apaixonante técnica de “estilar”: “Usa jogos de variação do mais lírico agudo ao mais espesso grave – pequenas espirais que começam na dor a meio do corpo e depois, no silêncio das guitarras, sobem e se suspendem na mais erótica e imponderável religiosidade.” Argentina Santos não gostava que lhe colassem o rótulo de “fadista” ou de “cantadeira”. Dizia ela: “Gosto que digam: ‘Ó Argentina, canta. Canta um fadinho’.”