Combate ao enfado é glória

Helena Guerreiro*

Três do quatro de dois mil e onze.
Domingo à tarde.
Os domingos são dias de preceito;
ou de ressaca existencial.
Como Glória, ou Como Penélope Morreu de Tédio, neste tempo-espectáculo-capitalista.

Desde que comecei uma investigação em artes visuais e performativas, dois livros me acompanham:
A Bíblia (Novo Testamento); não por ser crente ou praticante, mas por ter crescido sob forte influência da religião católica (dedico um capítulo dessa odysseía thésis a Jesus Cristo, sob a premissa de ser uma das personagens mais citadas da história da arte e da humanidade);
E a Odisseia. Partidas, Esperas e Regressos. Pratico bastante.
Tenho vindo a crer que estas duas obras são muito representativas e significativas na minha relação com a ilha onde nasci e da qual parti há já duas décadas. E que, por isso, me ajudam a decifrar um percurso individual na investigação e na criação artística.
Achei que ver este espectáculo seria uma forma de pesquisa e de recolha de material de referência para o meu trabalho.
Que seria importante conhecer a Cláudia, ouvir e ver esta mulher que escreve e encena a partir de universos tão próximos daqueles com que me relaciono. Encontrar pistas, respostas, ou o vislumbre de novas questões.
E foi. E conheci. E vi.

Saio de casa. Atravesso a cidade.
Sou levada para a ilha, meio torta, numa cadeira, sentada;
O mar da infância e outros que agora olho, da plateia;
Não morrer na espera.
Combate à inércia.
Combate ao enfado é glória.

*Investigadora (artes plásticas e artes visuais), docente (artes performativas/figurino), música.

_

25 Março – 3 Abril 2011
Teatro Carlos Alberto

Glória, ou Como Penélope Morreu de Tédio

texto e encenação Cláudia Lucas Chéu
coprodução AJ Produções, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Nacional São João | Odisseia: Dia Mundial do Teatro

_

in O Elogio do Espectador: 100 espetáculos, 100 testemunhos, 100 fotografias Cadernos do Centenário | 1
_

fotografia João Tuna