Teatro São João reabriu ao público após seis meses de obras de reabilitação

O Teatro São João reabriu ao público na passada sexta-feira, 22 de outubro, com um programa que incluiu a inauguração da exposição 10 Atos 100 Anos, o arranque do colóquio internacional Teatros Nacionais: missões, tensões, transformações e a pré-apresentação dos primeiros dois atos da produção Lear, com encenação de Nuno Cardoso, que vai ter estreia no dia 6 de novembro. No mesmo dia, após uma visita guiada aos pontos fulcrais da intervenção de reabilitação a que foi submetido o edifício-sede do Teatro Nacional São João, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, outorgou ainda a Medalha de Mérito Cultural a Salvador Santos, ex-subdiretor e vogal do conselho de administração do São João, pelo seu percurso e pelos serviços prestados às artes cénicas em Portugal.

Após a visita guiada ao interior do Teatro, em discurso perante a sala do São João, Graça Fonseca sublinhou que o “investimento estatal regular e ambicioso” passa “tanto pela aposta numa programação eclética, inovadora e de reconhecida qualidade, como por uma paralela atenção às condições e recursos estruturais e técnicos de que este equipamento dispõe e necessita para poder assegurar adequadamente a sua missão de serviço público cultural.”

Nesse sentido, as áreas prioritárias de intervenção de reabilitação, cofinanciadas pelo programa operacional Norte 2020, são, por um lado, “indissociáveis de uma gestão responsável, estratégica e rigorosa”, e revelam-se fundamentais para que os trabalhadores da Casa e “as equipas artísticas e técnicas externas possam desenvolver harmoniosa e eficazmente o seu trabalho diário e sentir-se motivados e valorizados” e para que o público encontre aqui “um contexto de fruição estimulante, aprazível e envolvente”.

A ministra da Cultura aproveitou também para deixar uma nota de elogio às iniciativas que o Teatro Nacional São João tem levado a cabo, como a exposição museográfica 10 Atos 100 Anos, ou o colóquio Teatros Nacionais: missões, tensões, transformações, mas igualmente a edição dos “Cadernos do Centenário” ou o projeto internacional do São João – aspetos “relevantes para reforçar e qualificar a dimensão internacional da sua programação artística, construindo pontes e diálogos que permitem abrir outras janelas de colaboração e partilha que não se limitam ao amplexo nacional”.

Na sua intervenção inicial ao público, o presidente do conselho de administração do Teatro Nacional São João, Pedro Sobrado, endereçou um agradecimento à “equipa deste Teatro Nacional, pessoas que fazem do São João aquilo que ele é”, “ao Ministério da Cultura, ao Ministério do Planeamento e à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte pela oportuna concertação de perspectivas que, no final de 2019, conduziu ao aviso-convite emitido pelo Norte 2020, cujo corolário foi a obra que realizámos, sem derrapagens de prazo ou orçamento”, assim como “aos projetistas, os empreiteiros e a equipa de fiscalização”, solidários com “os objectivos do programa, os limites orçamentais e os prazos tão reduzidos”.

Sobre a obra, “uma intervenção substancial e muito relevante tanto para a conservação deste Monumento Nacional como – e sobretudo – para o pleno desenvolvimento da actividade deste Teatro nos próximos 25 anos”, Pedro Sobrado preveniu “que aquilo que é visível é menos relevante do que aquilo que permanecerá invisível, se não descermos ao subpalco, subirmos à cobertura ou nos infiltrarmos nesta caixa negra de palco. Notórias serão as intervenções de restauro e manutenção."

“Mas as virtudes da obra residem sobretudo no que não é imediatamente perceptível, da renovação das instalações eléctricas e dos sistemas de climatização ao reforço dos dispositivos de segurança contraincêndios, passando pela correção de patologias estruturais ou pelo incremento da eficiência energética”. No entanto, explicou, “a mais expressiva intervenção foi coronária, isto é, incidiu sobre o coração do teatro: palco e toda a arquitetura de cena foram submetidos a uma operação de atualização e modernização. A isto soma-se a renovação substancial do parque técnico do São João, com novos equipamentos de iluminação cénica, som, vídeo, direção de cena e maquinaria.”

Apresentado por Fátima Vieira, pró-reitora da Universidade do Porto, Marvin Carlson, professor honorário de Teatro, Literatura Comparada e Estudos do Médio Oriente na City University de Nova Iorque e um dos mais influentes teatrólogos das últimas décadas, protagonizou a conferência de abertura do colóquio Teatros Nacionais: missões, tensões, transformações, sob o mote “Os Teatros Nacionais no século XXI”. O colóquio haveria de prosseguir ao longo de sábado e domingo, no Mosteiro de São Bento da Vitória, com convidados oriundos de teatros de Itália, Argentina, Irlanda, África do Sul, Roménia, Tunísia, Espanha, Alemanha, Escócia ou Bélgica, que contribuíram para as reflexões de três mesas-redondas dedicadas aos temas “Missões. Liberdades e constrangimentos da instituição ‘Teatro Nacional’”, “Tensões. Quando a nação é um problema ou uma aquisição recente” e “Transformações. Os Teatros Nacionais do futuro”, antes da conferência de encerramento “Um imaginário social – para além do nacional”, proferida por Elzbieta Matynia, professora de Sociologia e Estudos Liberais e diretora fundadora do Centro Transregional de Estudos Democráticos na New School for Social Research de Nova Iorque.

Ainda na tarde de sexta-feira, foi inaugurada no Salão Nobre do Teatro São João a exposição 10 Atos 100 Anos, que fecha oficialmente as comemorações do Centenário desta Casa. Ao longo deste contentor de memória em forma de parede serpenteada, desfilam dez momentos marcantes da sua história – do incêndio do “velho” Real Teatro ao “novo” São João de Marques da Silva, do São João Cine à aquisição do edifiício pelo Estado, do restauro do arquiteto João Carreira à “invenção” de um Teatro Nacional por Ricardo Pais.

Ao final da noite, os espectadores tiveram a possibilidade de assistir à pré-apresentação dos dois primeiros atos da mais recente produção própria do Teatro Nacional São João, no seu palco renovado. Lear, de William Shakespeare, tem encenação de Nuno Cardoso e um elenco composto pelo elenco “quase” residente do São João e por atores com passado na Casa. A estreia está marcada para o dia 6 de novembro.

26 de outubro de 2021